Discurso de apresentação de evento - grêmio estudantil
Atualizado: 24 de mai. de 2021
Coloque-se no lugar de um líder de grêmio estudantil que tem recebido reclamações dos colegas sobre o
ensino de ciências em sua escola e que, depois de ler a entrevista com Tatiana Nahas na revista de divulgação
científica Ciência Hoje, decide convidá-la a dar uma palestra para os alunos e professores da escola. Escreva
um discurso de apresentação do evento, adequado à modalidade oral formal. Você, necessariamente,
deverá:
a) apresentar um diagnóstico com três (3) problemas do ensino de ciências em sua escola; e
b) justificar a presença da convidada, mostrando em que medida as ideias por ela expressas na entrevista
podem oferecer subsídios para a superação dos problemas diagnosticados.
Escola na mídia
Tatiana Nahas. Bióloga e professora de ensino médio, tuiteira e blogueira. Aos 34 anos, ela cuida da página
Ciência na mídia, que, nas suas palavras, "propõe um olhar analítico sobre como a ciência e o cientista são
representados na mídia".
Ciência Hoje: É perceptível que seu blogue dá destaque, cada vez mais, à educação e ao ensino de
ciências.
Tatiana Nahas: Na verdade, é uma retomada dessa direção. Eu já tinha um histórico de trabalho em projetos
educacionais diversos. Mas, mais que isso tudo, acho que antes ainda vem o fato de que não dissocio
sobremaneira pesquisa de ensino. E nem de divulgação científica.
CH: Como você leva a sua experiência na rede e com novas tecnologias para os seus alunos?
TH: Eu não faço nenhuma separação que fique nítida entre o que está relacionado a novas tecnologias e o
que não está. Simplesmente ora estamos usando um livro, ora os alunos estão criando objetos de
aprendizagem relacionados a determinado conteúdo, como jogos. Um exemplo do que quero dizer: outro dia
estávamos em uma aula de microscopia no laboratório de biologia. Os alunos viram o microscópio,
aprenderam a manipulá-lo, conheceram um pouco sobre a história dos estudos citológicos caminhando em
paralelo com a história do desenvolvimento dos equipamentos ópticos, etc. Em dado ponto da aula, tinham
que resolver o problema de como estimar o tamanho das células que observavam. Contas feitas, discussão
encaminhada, passamos para a projeção de uma ferramenta desenvolvida para a internet por um grupo da
Universidade de Utah. Foi um complemento perfeito para a aula. Os alunos não só adoraram, como tiveram
a possibilidade de visualizar diferentes células, objetos, estruturas e átomos de forma comparativa, interativa,
divertida e extremamente clara. Por melhor que fosse a aula, não teria conseguido o alcance que essa
ferramenta propiciou. Veja, não estou competindo com esses recursos e nem usando-os como muleta. Esses
recursos são exatamente o que o nome diz: recursos. Têm que fazer parte da educação porque fazem parte
do mundo, simples assim.
Ah, mas e o monte de bobagens que encontramos na internet? Bom, mas há um monte de bobagens
também nos jornais, nos livros e em outros meios “mais consolidados”. Há um monte de bobagens mesmo
nos livros didáticos. A questão está no que deve ser o foco da educação: o conteúdo puro e simples ou as
habilidades de relacionar, de interpretar, de extrapolar, de criar, etc.?
CH: Você acha que é necessário mudar muita coisa no ensino de ciências, especificamente?
TN: Eu diria que há duas principais falhas no nosso ensino de ciências. Uma reside no quase completo
esquecimento da história da ciência na sala de aula, o que faz com que os alunos desenvolvam a noção de
que ideias e teorias surgem repentinamente e prontas na mente dos cientistas. Outra falha que vejo está no
fato de que pouco se exercita o método científico ao ensinar ciências. Não dá para esperar que o aluno
entenda o modus operandi da ciência sem mostrar o método científico e o processo de pesquisa, incluindo
os percalços inerentes a uma investigação científica. Sem mostrar a construção coletiva da ciência. Sem
mostrar que a controvérsia faz parte do processo de construção do conhecimento científico e que há muito
desenvolvimento na ciência a partir dessas controvérsias. Caso contrário, teremos alunos que farão coro
com a média da população que se queixa, ao ouvir notícias de jornal, que os cientistas não se resolvem e
uma hora dizem que manteiga faz bem e outra hora dizem que manteiga faz mal. Ou seja, já temos alguns
meios de divulgação que não compreendem o funcionamento da ciência e a divulgam de maneira
equivocada. Vamos também formar leitores acríticos?
(Adaptado de Thiago Camelo, Ciência Hoje On-line. Disponível em http.cienciahoje.com.br. Acesso em: 04/03/2010.)